Bexiga Neurogênica
A bexiga é o órgão do trato urinário que tem as funções de armazenamento e eliminação de urina. O conjunto, bexiga e esfincter urinário, sob controle neurológico permite que nos mantenhamos “seco”.
A bexiga neurogênica é uma complicação onde a bexiga possui um comprometimento da sua inervação, por acometimento do sistema nervoso central ou periférico, de origem congênita ou adquirida. Na condição de bexiga neurogênica a capacidade de armazenamento, esvaziamento, ou ambas da bexiga podem estar prejudicas ou abolidas e como consequências pode-se ter incontinência urinária, insuficiência renal, infecções urinárias de repetição.
Pode estar presente em ambos os sexos e em qualquer faixa etária. Nas crianças costuma ser decorrente de doenças congênitas como mielomeningocele, espinha bífida, secundárias a procedimentos cirúrgicos na região pélvica ou relacionadas a outras doenças. Na população adulta a principal causa é o trauma com lesão do sistema nervoso central ou trauma raquimedular. Pode também ser decorrente de doenças neurológicas degenerativas, inflamatórias ou acidentes vasculares cerebrais.
As bexigas neurogênicas podem adquirir diferentes padrões de comportamento, desde quadros leve a acometimentos mais graves, e o acompanhamento e tratamento desde o início do diagnóstico permite evitar que complicações venham surgir.
O tratamento e seguimento da bexiga neurogênica visa evitar dano da função renal, controlar as recorrência das infecções urinárias e tratar a incontinência urinária e desta forma melhorar a qualidade de vida, permitindo uma melhor adaptação social do paciente e uma melhora da auto-estima.
O tratamento inicial geralmente é clínico por meio de medicações oral e/ou cateterismo vesical intermitente, muitas vezes associados. Naqueles pacientes com insucesso ao tratamento clínico haverá a necessidade de tratamento cirúrgico com injeção endoscópica de toxina botulínica ou cirurgias para ampliar a bexiga e assim promover uma melhora da continência e da capacidade de armazenamento de urina pela bexiga.
O urologista pediátrico é o profissional capacitado para fazer o tratamento e seguimento destes pacientes, com o apoio de uma equipe multidisciplinar.
Ureterocele
A ureterocele é um prolapso da mucosa do ureter para o interior da bexiga e que as vezes pode exteriorizar-se pela vagina. Pode estar presente tanto no sexo masculino quanto no feminino. Essa projeção da mucosa ureteral realiza uma obstrução do rim deste sistema urinário, levando a uma hidronefrose renal (dilatação) e algumas vezes com perda da função do rim acometido. A ureterocele poderá promover infecções urinárias e a associação com outras doenças urológicas pode estar presente, como a duplicidade ureteral e refluxo vesioc-ureteral, por exemplos.
A avaliação por um urologista pediátrico permite uma adequada interpretação dos exame e uma melhor condução do tratamento. O tratamento pode ser por via endoscópica, onde se realiza uma fulguração e esvaziamento da ureterocele ou cirúrgico, naqueles casos mais graves ou quando ocorreu falha no tratamento endoscópico.
Hipospádia
É uma alteração na formação do canal da uretra ocasionando uma abertura do orifício uretral numa posição não habitual, que é na ponta da glande. Esta abertura poderá ser desde o períneo até abaixo da glande peniana (cabeça do pênis).
Sua presença pode causar dificuldade de controle do jato urinário, tornando-se um transtorno social e psicológico para a criança. Também, a fertilidade do homem pode ser prejudicada por muitas vezes não permitir a ejaculação do esperma no interior da vagina.
Com que idade devo tratar a hipospádia do meu filho?
O tratamento é cirúrgico, de preferência nos primeiros anos da criança onde a imagem do órgão sexual ainda está em formação. Nos dias atuais, a melhor idade para realizar a cirurgia é entre os 6 meses e 1 ano de idade.
É uma cirurgia complexa, onde se manipula estruturas anatômicas delgadas e se trabalha com fio de sutura finos. De acordo com a localização do meato uretral é realizado a programação da cirurgia, que poderá ser realizada em uma só etapa e outras vezes será necessário a programação cirúrgica em duas etapas. Uma técnica denominada “3 em 1”, desenvolvida pelo Dr. Antonio Macedo para correção de hipospádias complexas, apresenta como particularidade a possibilidade de tentarmos resolver em um só etapa aqueles casos que necessitariam de pelo menos 2 cirurgias.
As complicações podem ocorrer, desde a formação de fístulas até a deiscência de toda a reconstrução realizada.
Por ser uma cirurgia tecnicamente delicada deve ser realizada por um Urologista Pediátrico experiente que possui um adequado treinamento desta doença.
Fimose
Fimose é a incapacidade de exposição da glande (cabeça) do pênis, devido a um estreitamento da pele peniana (prepúcio) que recobre o pênis ou devido a aderências da pele a glande peniana. O prepúcio tem a função de proteger a glande de traumas e preservar a sensibilidade desta.
Em crianças, nos primeiros anos de vida, o prepúcio só se separa da glande mediante uma leve tração. Manobras de retração tempestiva, além de causar uma grande dor, pode causar fissuras nesta pele e levar ao desenvolvimento de fimose. Aquelas famosas “massagens” devem ser evitadas.
E quem merece ser tratado de fimose?
A fimose é considerada fisiológica até os 2 anos de idade. O tratamento deve ser realizada naquelas crianças que apresentam associação com infecção urinária ou doenças urológicas que as predispões, nas situações de inflamação repetitiva do pênis por dificuldade de realizar-se a higienização, nos casos de dificuldade para fazer xixi ou quando for desejo dos pais, respeitando as crenças religiosas ou fatores culturais.
Na ausência de indicações médicas para tratar ou prevenir processos infecciosos e inflamatórios, pode-se aguardar até os 2 – 3 anos de idade para definir a necessidade de tratamento que poderá ser clínico, com uso de pomada, ou cirúrgico, a chamada circuncisão ou postectomia, que nada mais é que a retirada do excesso de pele.
Pênis Pequeno
Uma preocupação comum dos pais, principalmente em meninos gordinhos, é achar que sua criança tem o pênis pequeno demais. Não há o porquê de tanta aflição. É comum no menino mais obeso um acúmulo de gordura na região pubiana, levando a um embutimento do pênis. Cuidado deve ser tomado para evitar transtornos psicológicos na criança e uma consulta com urologista pediatrico para esclarecimento, avaliação e necessidade de excluir a possibilidade de micropênis deve ser realizada.
Infecção Urinária em Crianças
As crianças até os 5 anos de idade apresentam uma incidência maior de infecção urinária (ITU). No primeiro ano de vida, esta incidência é maior no sexo masculino e depois do primeiro ano, as meninas passam a ser mais acometidas.
Qualquer ITU sintomática em crianças menores de 5 anos deve ser investigada e o UROLOGISTA PEDIÁTRICO pode ter um papel fundamental nesta investigação. As ITU podem ser decorrentes de alterações anatômicas presentes no trato urinário ou secundárias a distúrbios funcionais da bexiga.
A importância de diagnosticar, tratar e prevenir as ITU nas crianças é fundamental para evitar danos ao rim e suas complicações, tais como insuficiência renal e hipertensão arterial.
Extrofia de Bexiga
É uma doença congênita, que pode acometer ambos os sexos. Muitas vezes, o diagnóstico ainda é realizad no pré-natal e desde este momento o acompanhamento com um UROLOGISTA PEDIÁTRICO é fundamental para esclarecer as dúvidas dos pais e orientá-los de como será o tratamento pós-parto.
O tratamento é cirúrgico e o ideal é que seja realizado nas primeiras 72 horas de vida. Na impossibilidade do atendimento logo nos primeiros dias após o nascimento, as orientações fornecidas pelo urologista pediatrico e sua equipe de enfermagem podem amenizar as intercorrências até o momento do atendimento especializado. A não realização do tratamento com o fechamento da bexiga aumenta o risco de desenvolver doença maligna no futuro.
É comum a associação da extrofia de bexiga com outras doenças, como a epispádia e também alterações ortopédicas. É importante a familia estar ciente que o tratamento é essencial para qualidade de vida destes pacientes e que muitas vezes várias cirurgias serão necessárias.
Estenose da Junção Uretero-Piélica (JUP)
A estenose de JUP é uma condição onde ocorre um estreitamento na junção da pelve renal ao ureter promovendo uma dilatacão renal, que chamamos de hidronefrose. Hoje, como o uso rotineiro da ultrassonografia gestacional cada vez mais o diagnóstico é feito na fase uterina, de forma precoce.
A estenose de JUP poderá apresentar diferentes condições de evolução após o nascimento e crescimento da criança e um acompanhamento pelo UROLOGISTA PEDIÁTRICO, permite monitorar o desenvolvimento do rim e propor o tratamento adequado a cada situação.
O aconselhado naqueles casos diagnósticados intra-utero é que o urologista pediátrico já seja consultado no período pre-natal para orientação a família. Estas crianças devem ser reavaliadas por meio de ultrassonografia do aparelho urinário após 48 horas de vida.
Há situações onde o diagnóstico será feito nas crianças maiores, e muitas vezes os sintomas são inespecíficos como uma dor abdominal ou uma infecção urinária.
Após avaliação com exames de imagem e cintilográficos poderá ser definido a opção de tratamento, que as vezes pode ser somente observação vigilante e outros casos será necessário tratamento cirúrgico. Este pode ser por via aberta ou laparoscópica, sendo a via aberta, a primeira opção de tratamento em crianças, com melhores resultados.
Hematúria
É a presença de sangue na urina. Quanto visível a olho nu, chamamos de hematúria macroscópica e quando identificada. apenas, num exame de urina, chamamos de hematúria microscópica. A presença de hematúria sempre é um sinal de alarde. Deve ser investigada, pois pode ser inespecífica devido a esforço físico, mas também pode ser o sinal de uma infecção urinária, cálculo renal, alguma anomalia do trato urinário ou de alguma doença renal glomerular.
A avaliação pelo urologista pediátrico permite tentar identificar a causa da hematúria, assim permitindo o adequado tratamento e orientação aos pais.
Refluxo vesico-ureteral
O Refluxo vesico-ureteral (RVU) constitui o retorno da urina da bexiga ao trato urinário superior (ureter e rim). Geralmente é secundário a falha de formação ou amadurecimento de mecanismo valvular constituido pela parede da bexiga que impediria o refluxo. Outras vezes pode ser secundário a uma pressão elevada na bexiga, determinando o refluxo.
O refluxo vesico-ureteral (RVU) geralmente é diagnosticado após o nascimento e secundário a um episódio de infecção urinária. É comum a associação do RVU a infecção urinária, mas outras alterações do trato urinário podem estar presentes.
O tratamento do RVU dependerá de vários fatores como idade da criança, sexo, grau do RVU, associação com infecção ou cicatrizes renais. Dependendo desses fatores o urologista pediátrico discutirá com a família as opções de tratamento que poderá ser clínico ou cirúrgico.
O tratamento clínico tem por objetivo evitar a associação com as infecções urinárias, tentar evitar danos futuros aos rins e aguardar por uma chance de resolução espontânea do refluxo.
O tratamento cirúrgico hoje está dividido pelo tratamento endoscópico com aplicação de substancias ao nível da junção do ureter a bexiga e pela cirurgia, propriamente dita. O tratamento endoscópico é menos invasivo, porém naqueles casos de grau mais elevado possuem resultados não tão satisfatórios quanto a cirurgia aberta que apresenta os melhores índices de resolucão, tanto nos refluxos de baixo e alto grau.
Naquelas situacões onde o RVU é secundário a outra patologia o tratamento dependerá da situação clínica promovida por esta patologia, muitas vezes regredindo após a solução do problema primário.
O Refluxo vesico-ureteral poderá promover danos aos rins, podendo prejudicar o processo de filtração renal ou predispondo a criança a hipertensão arterial. Um acompanhamento conjunto com o pediatra ou o nefrologista pediátrico é importante com o intuito de monitorizar estas alterações que podem ocorrer.
Enurese Noturna
O ato de urinar na cama durante o sono, popularmente chamado “xixi na cama”, recebe a denominação médica de enurese noturna. Se o seu filho tem mais de 5 anos e ainda molha a cama, o assunto abaixo é de seu interesse.
Nos primeiros anos de vida as crianças descobrem que podem controlar o esfíncter urinário e até o quinto ano de vida completa-se o amadurecimento neurofisiológico da bexiga. Entretanto 15 a 20% das crianças nesta faixa etária ainda molham a cama a noite, mostrando-nos que isto não é nada tão fora do comum.
Sabemos que a cura ocorre de forma espontânea com o tempo, onde 10% dos pacientes melhoram por ano, mas muitas vezes a cura pode demorar e a longa espera pode trazer transtornos a criança. Algumas guardam isto como verdadeiros segredos dos demais colegas com medo de serem ridicularizadas, outras não raramente são punidas pelo ato de urinar na cama, por seus pais acreditarem tratar-se de uma ato voluntário, de birra ou não vontade de levantar para ir ao banheiro. Aqui devemos reforçar que não se pode punir estas crianças, pois isto não é um ato voluntário.
Os mecanismos para explicar a enurese noturna são diversos. Comumente, estas crianças apresentam um sono mais pesado, com despertar difícil durante o sono, a produção de urina a noite encontra-se aumentada e apresentam uma bexiga de menor volume. Sabe-se, também, que o fator hereditário está presente e que filhos de pais enuréticos possuem maior probabilidade de terem enurese.
Os fatores psicológicos e/ou psiquiátricos que no passado acreditava-se poderiam serem causas, hoje sabemos que habitualmente não estão relacionados como fatores desencadeadores e mais comumente como consequências. Naquelas situações onde a criança não era enurética previamente, ou que há pelo menos seis meses não apresentava enurese noturna, um fator psicológico pode estar envolvido.
Os transtornos de auto-estima e incapacidade gerados pela enurese noturna na criança podem levar aos transtornos psicológicos.
Mas se a doença apresenta uma taxa de resolução espontânea, qual a criança que merece ser tratada? O tratamento pode-se mostrar útil em todas, mas principalmente naquela criança que se mostra mais incomodada com o fato de urinar na cama e a família estimulada a participar do tratamento.
Há aquelas situações mais graves, onde a frequência é quase que diária e que além dos transtornos familiares, ainda há as trocas diárias de lençol e frequente necessidade de trocar o colchão. A impossibilidade de dormir fora de casa sem evitar o constrangimento de urinar a cama alheia costuma ser um motivo para procura de tratamento.
Quando identificado o problema pelos pais ou pediatra, o acompanhamento pelo urologista pediatrico é fundamental. O tratamento da enurese, muitas vezes, pode ser demorado, estressante para a família e um acompanhamento especializado é aconselhado. Em momento algum, as crianças com enurese devem ser punidas ou humilhadas pelo ato de fazer xixi na cama.
Diversas opções de tratamento já foram tentadas e o tratamento da enurese muitas vezes se constitue de uma modalidade de tratamento multifatorial, as vezes multiprofissional e principalmente de participação e paciência dos pais e demais membros da família.
A terapia deve ser baseada nos fatores que contribuem para a enurese noturna:
1) Modificações de dietas que possam estar influenciando na continência noturna, como evitar a ingestão de frutas ácidas, pimentas e alimentos picantes antes de dormir.
2) Programa de esvaziamento regular intestinal com modificação dietética e se necessário uso de laxativos orais ou enemas.
3) Terapia de modificação comportamental.
4) Alarme: aparelho que objetiva despertar a crianças quando o aparelho entra em contato com a urina. Apresenta bons resultados de cura, porém com inconveniente de as vezes despertar toda família, menos o paciente.
5) Medicações: As medicações utilizadas para o tratamento consistem da desmopressina, um análogo sintético do hormônio diurético, a imipramina, um antidepressivo tricíclico e a oxibutinina.
Essas substâncias produzem uma taxa de cura de 40 a 80%, contudo a taxa de recorrência dos sintomas gira em torno de 50% dos casos.
A paciência dos pais e apoio de toda a família é fundamental para o tratamento com sucesso da enurese noturna e o tratamento pode evitar transtornos sociais, psicológicos a criança enquanto se aguarda a cura espontânea. Algumas crianças podem também apresentar perdas urinárias diurnas e uma avaliação adequada deve ser realizada para esclarecer o diagnóstico e orientar o tratamento.
Hidronefrose Pré-natal
Hoje é rotina a realização da ultrassonografia gestacional, e dentre elas a ultrassonografia (USG) morfólogica que é realizada após 20 semanas de gestação, sendo idealmente realizada entre a 22ª e a 24ª semana de gestação. A USG morfológica poderá identificar a presença de alterações no trato uro-genital das crianças, dentre elas a dilatação do rim, chamada de hidronefrose.
A hidronefrose pode ser decorrente de uma variedade de doenças que acometem o feto.
Nem sempre é seguro realizar alguma intervenção no feto para tentar solucionar ou amenizar a hidronefrose, entretanto uma consulta com o urologista pediátrico antes do nascimento poderá esclarecer as dúvidas dos pais e orientá-los de como será conduzido o caso logo após o nascimento.
A avaliação inicial da criança deve começar no berçario, nas primeiras 24 horas de vida naqueles casos mais graves, com hidronefrose acentuada bilateral e nos demais a ultrassonografia deverá ser realizada após 48 horas de vida e antes da alta hospitalar do bebê.
Hidrocele e Hernia Inguinal
Ambas são caracterizadas por um aumento do volume do saco escrotal, podendo as vezes ser constante ou observada principalmente durante o choro da criança. O diagnóstico diferencial entre hérnia inguinal e hidrocele é importante, pois a conduta destas duas doenças é diferente.
A hérnia é decorrente da persistência do conduto peritôneo vaginal pelo qual passa conteúdo de alças em direção ao escroto. Além do desconforto doloroso provocado por esta condição, há o risco iminente destas alças ficarem pressas durante esta passagem e entrarem em sofrimento, condição conhecida como hérnia encarcerada, que é uma urgência médica cirúrgica. O diagnóstico é clínico e o tratamento é cirurgico e deverá ser indicado ao diagnóstico.
A hidrocele na criança pode ser decorrente da persistência do conduto peritôneo vaginal, permitindo a passagem de conteúdo líquido ao saco escrotal, ou pode ser decorrente de retenção deste líquido na estrutura do cordão escrotal. Assim com a hérnia inguinal o diagnóstico é clínico e difere no tratamento que não necessariamente será indicado logo ao diagnóstico.
Incontinência Urinária na Criança
A incontinência urinária na criança pode ter várias origens. Pode ser a primeira manifestação de uma bexiga neurogênica, pode ser secundária a uma disfunção do trato urinário inferior, secundária a alguma alteração anatômica do trato urinário como uma ectopia ureteral ou a manifestação de uma válvula de uretra posterior.
Uma avaliação médica com o urologista pediátrico permitirá identificar a causa e o adequado tratamento desta condição. Muitas vezes, a incontinência urinária não tratada promoverá distúrbios psico-sociais as crianças podendo prejudicá-la no desempenho escolar e relacionamento.
Testículo não descido (Criptoquirdico)
Os testículos se formam no interior do abdomen e geralmente, descem ao saco escrotal até o final da gestação. Há situações onde esta descida pode não ocorrer ou ser incompleta, com os testículos posicionando-se fora da bolsa testicular. A incidência é maior em recém-nascidos prematuros.
O posicionamento dos testículos na bolsa testicular é importante para o adequado desenvolvimento deles, onde a temperatura na bolsa escrotal é menor 2°C que a temperatura intra-abdominal. Testículos localizados fora da bolsa apresentam um maior risco de infertilidade, em torno de 35% se unilateral e até 70% se bilateral e também, apresentam um maior risco de desenvolver tumor. Quanto mais tarde for corrigido o posicionamento dos testículos maior o risco de tumor.
Doutor, qual a idade adequada para corrigir a cripoquirdia?
Sabemos que se o(s) testículo(s) não descer(em) para a bolsa testicular até o 9° mês de vida a possibilidade desta descida espontânea ocorrer é inexistente. A cirurgia para posicionamento do testículo no saco testicular deverá ser realizada entre o 9° mês e 1 ano de vida.
Doutor, o testículo do meu filho tem hora que está na bolsa testicular e tem hora que sobe, isto é normal?
Em algumas crianças o testículo pode não estar naturalmente fixado ao saco e possuem um reflexo do muscúlo cremaster mais acentuado, o que proporcionará uma subida do testículo mais frequentemente. Nestas ocasiões é importante uma avaliação e acompanhamento pelo urologista pediátrico, para monitorar o desenvolvimento dos testículos e avalair a necessidade de tratamento ou não.
Válvula de Uretra Posterior (VUP)
É uma doença congênita, presente apenas no sexo masculino, promovendo uma obstrução da bexiga pela persistência de uma membrana no interior da uretra.
Geralmente diagnósticada no período pré-natal na USG morfológica, está associada a hidronefrose e muitas vezes refluxo vesico-ureteral. Crianças maiores, naqueles casos mais leves, costumam apresentar história de infecção urinária e sintomas relacionados ao fluxo urinário como jato fraco, perda de urina. Logo após o nascimento a suspeita de VUP deve ser confirmada com uma uretrocistografia miccional a ser realizada antes da alta hospitalar do recém-nascido.
A VUP pode promover danos a bexiga e aos rins. Muitas vezes o dano renal já se estabelece no período intra-utero e um seguimento conjunto com o nefrologista pediátrico é essencial. A bexiga poderá apresentar mudanças de comportamento mesmo após tratada a VUP e o acompanhamento a longo prazo com o urologista pediátrico, também é importante.
O tratamento deve ser iniciado logo no berçario com drenagem por cateterismo vesical. Logo nos primeiros dias de vida deve ser programado o tratamento da VUP no centro cirúrgico com uma abordagem endoscópica, com cistoscópio pediátrico, para realização de uma ressecção ou fulguração da VUP. Na impossibilidade de tratamento endoscópico, deve-se realizar uma vesicostomia temporária de imediato, também.
Megaureter
Representado por uma dilatação do ureter, superior a 7mm de diâmetro. Pode ser secundário a um processo obstrutivo, refluxivo ou ambos. Comumente está associado a hidronefrose.
Sua forma de apresentação mais comum é por meio de infecção urinária, frequentemente diagnósticado após uma ultrassonografia do aparelho urinário.
É necessário investigar doenças associadas por meio de uma uretrocistografia miccional.
Em algumas situações extremas pode ser necessário promover uma drenagem temporária do trato urinário acometido por meio de uma ureterostomia. Geralmente, é empregado o tratamento clínico medicamentoso e observacional até os dois anos de idade e se insucesso avalia-se a necessidade de tratamento cirúrgico.
Disfunção miccional
Corresponde a uma alteração da função vesical-uretral em crianças sem anormalidade neurológicas, que é caracterizada clinicamente por uma vontade súbita e imperiosa para urinar (urgência), incontinência urinária diurna (urge-incontinência) ou ao dormir (enurese noturna), redução ou aumento da frequência miccional e comumente associada a constipação. É a maior causa de infecção urinária em crianças que já não usam mais fraldas.
Apresenta um grande risco, pois muitas vezes o diagnóstico de disfunção miccional não é lembrado pelo profissional que está assistindo a criança e as infecções urinárias de repetição e o acometimento da função vesical, secundários a doença, podem levar a um prejuízo dos rins.
O diagnóstico é primeiramente clínico e depois exames complementares como estudo urodinâmico, ultrassonografia do aparelho urinário. O emprego de um diário miccional ajuda bastante no entendimento do padrão miccional desta criança.
O tratamento inicial é clínico com medidas comportamentais mais medicamentos orais como anticolinérgicos e alfa-bloqueadores. Muitas vezes é necessário associar ao tratamento a eletroestimulação transcutânea da bexiga.
Litíase renal em crianças
A evolução das técnicas e miniturização dos instrumentos têm permitido avanços no tratamento do cálculo urinário em crianças. Além das causas já estabelecidas, nos últimos anos tem-se observado, principalmente nos países ocidentais, que os cálculos são formados por cálcio, em sua maioria, sem evidencia de anormalidades metabólicas na avaliação da urina de 24 horas e isto parece decorrer principalmente da dieta; desidratação e má-nutrição.
Diferentemente das clássicas cólicas renais do adulto, os sintomas de cálculo renal em criança manifestam-se comumente por dor abdominal e hematúria. O diagnóstico frequentemente é realizado por meio de uma USG do aparelho urinário e raio x de abdomen, e quando necessário TC de abdomen.
Nos cálculos renais a litotripsia extra-corporea (LECO) é um tratamento eficaz em crianças sem promover danos futuros ao parênquima renal e sem aumentar o risco de hipertensão. A LECO costuma ser a primeira opção em cálculo renal de até 20 mm, porém com o inconveniente de ter que sedar a criança.
O aprimoramento dos instrumentais pediátricos tem permitido a realização da nefrolitotripsia percutânea (NLP) com segurança e sem danos ao rim em crianças a partir de 2 anos de idade, tendo relato na literatura de NLP em crianças com 4 meses de idade. Naquelas massas de cálculos maiores a opção do tratamento sanduíche de NLP e LECO é uma boa opção. Nos cálculos ureterais, a ureterolitotripsia apresenta taxa de sucesso tão boas quanto em adultos e com índices de complicação também semelhantes. A ureterorrenolitotripsia flexível com laser também vem sendo aplicada com êxito em cálculos em ureter proximal e renal.